6.8.16

Miserere


MISERERE

Ano da Misericórdia

Se só Deus pode ser meu Salvador, se sou impotência e Ele omnipotência; se sou fragilidade e
Ele misericórdia, a salvação consiste em sair de mim mesmo nas asas da confiança,
 tranformar-me num pouquinho de barro, e colocar-me, humilde e submisso, nas suas mãos e
repetir incessantemente: «Lava-me» (v.9), «purifica-me» (v.4) «apaga os meus pecados» 
(v.3), «cria em mim um coração puro» (v.12) e a isto se reduz o Salmo 51: Não ficar a olhar
absorto as minhas negras vertentes, mas os espaços infinitos de Sua Misericórdia.

Miserere

Humildade - confiança

Eis a alma do Salmo 51. Contrastando com o binómio de morte (vergonha-tristeza), o Salmo
51 levanta bem alto o binómio de vida: humildade-confiança. Está aqui a salvação e a vida.
«Compadece-Te de mim, ó Deus, pela Tua bondade; pela Tua grande misericórdia, apaga os
meus pecados» (v.3)
Este é o acorde que dá o tom (e tom maior) a toda a sinfonia do salmo...

                                                                     *  *  *

Derrama sobre mim, meu Deus as águas das tuas fontes sagradas, para que eu fique puro,
como uma criatura recém-nascida. Insisto: Não Te canses; volta a submergir-me nas águas 
purificadoras da Tua misericórdia, lava-me uma e outra vez, e verás como a minha alma fica
mais branca do que a neve das montanhas (v.9).
 
Desperta em mim, meu Deus, todas as harpas da alegria; pulsa as cordas do gozo, no mais
íntimo do meu ser , os ossos humilhados levantem a cabeça, para entoar o hino da alegria; a
minha, que foi abatida pela tristeza e pela vergonha, agora, ao ser visitada pela Tua misericórdia, pode beber a água fresca da alegria (v.10).
 
Afasta o Teu olhar  destas chagas coaguladas, ou melhor, fita-as com ternura curadora. De
novo Te peço: varre e apaga os sinais, as cicatrizes, que as fraquezas e as culpas deixaram
mim (v.11).
 
Meu Deus, toca a substância mais afastada do meu ser, e realiza em mim uma nova criação; Tu
que tudo podes, repete em mim o prodígio da primeira manhã do mundo: coloca em mim uma
nova natureza, recém saída das tuas mãos; deposita no meu peito um coração novo, cheio de
bondade, mansidão, paciência e humildade; e reveste-o de uma firmeza de aço (v.12).
 
Por favor, não me expulses da Tua pátria, da luz do Teu olhar; não retires de mim, por favor, a
Tua mão consoladora e a assistência do teu Espírito (v.13). Um dia, meu Senhor, a alegria,
assustada como uma pomba, fugiu da minha casa; devolve-ma, Senhor; que ela regresse feliz
aos meus beirais, para que a minha seja música para os teus ouvidos; e não te esqueças de
colocar no meu cimento um material nobre e generoso (v.13).
 
Livra-me do sangue, meu Deus, e das suas tiranias; livra-me destas leis que, inexoravelmente,
me levam para dentro e para o centro, onde se ergue a minha própria estátua. Liberta-me das
ataduras, cadeias e exigências do meu egoísmo, Tu que és o meu único Libertador, e verás
como a minha língua entoa, aos quatro ventos, o hino da libertação (v.16).
 
Sei muito bem, ó meu Deus, que Tu nunca desprezas «um espírito humilhado e contrito»
(v.19). E a única coisa que posso oferecer-te, a maior homenagem que posso prestar-te é
acreditar, acima de tudo, na tua ternura, e deitar-me nos teus braços, reconhecido e confiante.


Trechos, Ignacio Larranaga - Salmos para a Vida

1 comentário:

Salvé Regina!