5.5.16

Este é o grande momento da fé.


O crente «adulto» não tem a preocupação de «meter» Deus na claridade  duma indução aristotélica. Sabe perfeitamente que o Deus da fé, embora «demonstrável» com certeza absoluta, continuará a ser um mistério distante, de que a nossa inteligência jamais poderá «apoderar-se» enquanto formos vivos.
Que faz? O «adulto» na fé supera todas as distâncias e limitações inerentes à fé, saindo de si mesmo; desprende-se de todos os artimos intelectuais que o raciocínio lhe proporciona e dá o grande salto no vazio, em plena noite escura, abandonando-se ao absolutamente Outro. É um salto no vazio porque o crente abandona as «razões» e deixa-se cair nesse abismo profundo que é o mistério.

 * * *

Este é o grande momento da fé.

É este o acto radical onde vai buscar todo o seu mérito e valor transformante.  Só tem valor a crença na luz quando se vive na noite.

Eu creio que que por trás deste silêncio respiras Tu.
Eu creio que por trás desta escuridão brilha o teu Rosto.

Ainda que tudo me saia mal, ainda que chovam os infortúnios, eu creio que me amas.
Ainda que tudo pareça fatalidade, mesmo que nos pareça que o absurdo do mundo, mesmo diante do espectáculo de homens a odiar e de crianças a chorar, mesmo ao ver que reina a tristeza e que mataram a pomba da paz, nem que me atormente a vontade de morrer..., eu creio, eu entrego-me a Ti. Sem Ti, que sentido teria esta vida? Tu és a vida eterna.

Esta é a fé que transporta montanhas e dá aos crentes uma consistência indestrutível. Com este "salto" se compreende que o acto de fé  seja obséquio. Sem dúvida que a fé, da parte de Deus, é dom, o primeiro dom. Mas, segundo me parece, da parte do crente há um belo e fundamental  acto de gratuitidade. É gratuito da parte do homem porque, para dar essa adesão vital, o crente não dispõe de motivos empíricos nem de razões aquietantes.
Em plena obscuridade, lança-se nos braços do Pai, a quem não vê, sem ter outro motivo nem outra segurança  que não seja a Sua Palavra. Há muita gratuitidade (e mérito) , da parte do homem, no acto de fé. E, repetimos, é o máximo acto de amor.
De tudo o que fica dito se depreende claramente que a fé, adulta não é principalmente adesão intelectual às verdades, doutrinas, dogmas, mas sim uma adesão vital e comprometedora duma Pessoa. Trata-se de assumir uma Pessoa e, ao assumi-la, assume-se também toda a Sua Palavra que condiciona e transforma a vida do crente.

«Fé significa não apenas ter algo por verdadeiro, nem é mera confiança.
Crer significa dizer amen a Deus, confiar e basear-se nele. Crer significa deixar Deus ser totalmente Deus, ou seja, reconhecê-Lo como a única razão e sentido da vida.
A fé, é pois, o existir na receptividade e na obediência.»  -
[walter kasper]
 
 
IGNACIO LARRANÃGA

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