Da esperança
Encontrei uma bonita imagem da esperança nas pregações de Advento de São Boaventura. O doutor seráfico diz aos seus ouvintes que o movimento da esperança se assemelha ao voo do pássaro, que para voar estende as suas asas o mais abertamente que pode e emprega todas as suas forças para as mover, torna-se todo ele movimento, e assim vai para o alto, voa efectivamente. Esperar é voar, diz Boaventura. A esperança exige-nos um empenho radical, requer que todos os nossos membros se tornem movimento para nos levantar da força de gravidade da Terra, para ascender à verdadeira altura do nosso ser, às promessas de Deus.
O doutor franciscano desenvolve então uma bela síntese da doutrina dos sentidos exteriores e dos sentidos interiores. Quem espera, assim diz ele, «deve levantar a cabeça, dirigindo para o alto os seus pensamentos, para a altura da nossa existência, isto é, para Deus. Deve levantar os olhos para captar todas as dimensões da realidade. Deve levantar o coração dispondo o seu sentimento para o sumo amor e para todos os seus reflexos no mundo. Deve mover também as suas mãos no trabalho».
(...)
O Senhor ensinava-nos a esperança ensinando-nos a sua oração, diz Tomás de Aquino. O pai-nosso é escola de esperança, a sua iniciação concreta. No Catecismo Romano a exposição do pai-nosso forma a quarta parte da catequese cristã fundamental, juntamente com a explicação da confissão de fé, do credo, dos mandamentos e dos sacramentos. Também aqui a oração do Senhor faz de explicação da esperança. Um homem desesperado já não reza porque já não espera; um homem seguro do seu poder e de si próprio já não reza porque confia somente em si mesmo.
Quem reza tem esperança numa bondade e num poder que ultrapassam as suas próprias possibilidades. A oração é esperança em acto.
[Exercícios de Fé, Esperança e Caridade — Joseph Ratzinger]
Em: Olhar para Cristo - Boaventura e Tomás Aquino — pgs 75/77
Em Outubro de 2016
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