14.1.17

A Oração

 
 
 
A Oração
A seguir, uma sacerdotiza disse:

— Fala-nos da oração.

E ele respondeu:

— Rezais na aflição e necessidade;
quem dera que rezásseis também
na plenitude da vossa alegria
e nos dias de abundância!

Que é a oração
senão a expressão do vosso ser
no ar vivo?

E se é para vosso alívio
que lançais a vossa escuridão no espaço,
é igualmente para vosso gosto
que abris o coração na aurora,

E não sabeis senão chorar
quando a vossa alma vos convida à oração;
ela devia aguilhoar-vos mais e mais,
apesar do choro,
até chegares ao riso.

Quando rezais,
elevai-vos para encontrar no ar
quantos rezam nessa mesma hora
e que não podereis encontrar
a não ser na oração.

Que a vossa visita
a este templo invisível,
não tenha como fim
senão o êxtase e a doce comunhão.

Porque se entrardes no templo
apenas para pedir,
nada recebereis.

E se entrardes só para vos humilhar,
não sereis exaltados.

E ainda que entreis para pedir
a felicidade de outros,
não sereis ouvidos.

Basta que entreis
no templo invisível.

Não posso ensinar-vos a orar
com palavras.

Deus não ouve as vossas palavras,
senão quando é Ele a falar
pela vossa boca.

Não posso ensinar-vos
as orações dos mares,
das flores e das montanhas.

Porém vós que viestes das montanhas,
e das florestas, e dos mares,
podeis encontrar no vosso coração
a sua prece.

E se vos limitares a escutar
na tranquilidade da noite,
ouvi-los-eis dizer em silêncio:

       — Nosso Deus, que és o nosso eu alado,
é a tua vontade que quer em nós.

É o teu desejo que deseja em nós.

É o teu impulso em nós
que gostaria de mudar as nossas noites,
que são as tuas,
em dias que são teus também.

Não podemos pedir-te
seja o que for
porque conheces as nossas necessidades
antes que nasçam
dentro de nós.

Tu és a nossa necessidade,
e dando-nos mais de Ti mesmo
dás-nos tudo.

[Khalil Gibran — O Profeta]

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