2.8.16

De devoto do demónio a apóstolo do Rosário - II

Um dos poucos casos em que um simples leigo é fundador de uma comunidade religiosa, ele
legou à Igreja uma obra grandiosa. O Papa João Paulo II o qualificou de "verdadeiro apóstolo
do Rosário".


Numa manhã de outubro de 1872, um homem ainda jovem, profundamente preocupado,
passeia pelos arredores de Pompéia. Nada lhe importam as históricas ruínas da cidade
sepultada pela erupção do Vesúvio no ano de 79. Uma dúvida o atormenta: "Depois de uma
vida péssima, arrependi-me e encetei o caminho da conversão. Mas... conseguirei salvar minha
alma?"

Em determinado momento, uma voz interior lhe fala no fundo da alma: "Se queres salvar-te,
propague a devoção do Rosário. É uma promessa da Virgem Maria".

Num sobressalto de júbilo, ele levanta o rosto e as mãos para o Céu e brada: "Ó Maria, se é
verdade que prometeste a São Domingos que quem difunde o Rosário se salva, eu me salvarei,
porque não sairei desta terra de Pompéia sem ter aqui propagado essa santa devoção".

Nesse instante soa o velho sino da igreja próxima, para o Ângelus de meiodia. O homem
ajoelha-se, reza e chora. Chora de alegria, pois compreende que a Rainha dos Apóstolos
acabava de lhe dar uma grande missão.

No coração de Bártolo Longo estava plantada a semente do futuro Santuário de Nossa Senhora
do Rosário de Pompéia, centro internacional de irradiação dessa devoção mariana, e sede de
várias obras de beneficência e de formação da juventude.

O reitor do Santuário, Pe. Francesco Soprano, o vice-reitor, Pe. Gennaro Gargiulo, e a chefe do
departamento de imprensa, Dra. Loreta Somma, contam para nossa Revista a história do
fundador dessa Instituição.

Vivacidade, inteligência e piedade

Bártolo Longo nasceu em 10 de fevereiro de 1841, em Latiano (Itália), e foi batizado três dias
depois. Sua infância decorreu piedosa e feliz. Desde tenra idade, manifestou-se muito
inteligente, de caráter ardente e decidido. Ele mesmo se definiu como "um menino vivaz,
impertinente e quase travesso". Sabia imitar na perfeição os gestos, os sotaques e outras
características das pessoas que conhecia.
A par disso, dava mostras de verdadeira piedade. Ouvindo tocar o sino anunciando a hora do
Ângelus, interrompia imediatamente qualquer brinquedo e corria para rezá-lo junto de sua
mãe. Quando fez a Primeira Comunhão, ficou imóvel durante uma hora e meia, agradecendo
essa graça inapreciável. Uma pessoa indiscreta quis interrompê-lo e recebeu esta resposta: "A
acção de graças a Jesus, que chega pela primeira vez, deve ser bem feita!"

Deixou de rezar... rolou no extremo do mal

Com todas essas qualidades, concluiu de forma brilhante seus estudos primários e secundários,
recebendo aos 17 anos o diploma que o credenciava ao curso superior.
Todavia, nele se realçava sobretudo o temperamento apaixonado. Bártolo não era homem de
meios-termos. Sua estrutura psíquica o conduziria ou ao extremo do bem, ou ao do mal.

Decidiu estudar direito em Nápoles. Longe de ser propícia à fé católica, a época era de negação
e até mesmo de luta aberta contra a Santa Igreja. O racionalismo e o anti-clericalismo faziam
devastações no meio da juventude. Professores ímpios usavam as cátedras universitárias para
difundir filosofias atéias.

Nessa conjuntura, Bártolo dedicou-se com ardor aos estudos, às diversões, à música (tocava
piano). Inteligente, elegante e de boas maneiras, vivia cercado de muitos amigos.
Não lhe sobrava tempo para a oração... Deus, a Virgem Maria, foram-se apagando até
desaparecer de sua memória. Quando terminou seu curso de Direito, em 1864, estava
inteiramente desorientado pelas teorias filosóficas do materialismo e do racionalismo.

Não parou aí. A perda da fé na divindade de Jesus criou em sua alma um vazio que ele
procurou preencher recorrendo ao espiritismo. Extremista por natureza, tornou-se inimigo
acirrado da Santa Igreja. Pronunciava conferências anticlericais e organizava manifestações
públicas contra a religião.
Tal era seu ódio que decidiu fazer-se "sacerdote" do espiritismo e submeteu- se a um duro
regime de jejuns e mortificações corporais, com o objetivo de fazer uma consagração radical ao
demônio.

Uma Confissão bem feita

Entretanto, por paradoxal que seja, durante todo esse negro período o jovem Bártolo não
cessou de rezar o Rosário e, facto mais extraordinário ainda, conservou a virtude da castidade.

Se falsos amigos o arrastaram à perda da Fé, amigos autênticos foram instrumentos da
Providência para reconduzi- lo à Casa Paterna
.
Um destes, o Prof. Vincenzo Pepe - que Bártolo qualifica como "o amigo de minha alma, que o
Senhor pôs a meu lado em todos os momentos críticos e decisivos de minha vida" - não hesitou
em, numa hora oportuna, admoestar severamente o jovem advogado por sua péssima vida.

Fecundada pela graça, essa advertência surtiu efeito. Bártolo decidiu procurar o confessionário
para se reconciliar com Deus. Dirigiu-se à Igreja do Rosário, em Nápoles, onde foi atendido
pelo Pe. Alberto Radente, religioso dominicano. Era dia da festa do Sagrado Coração de Jesus,
em 1865.
O ex-inimigo da Igreja confessou-se com profundo arrependimento. O Pe. Radente ficou
maravilhado ante o poder da graça nessa alma, mas só lhe deu a absolvição depois de um mês
de encontros para direcção espiritual. Bártolo pôde, então, receber a Sagrada Eucaristia. Em
seus escritos, ele contará depois: "Foi como fazer de novo a Primeira Comunhão, foi como se
eu tivesse recebido um segundo Batismo!"

Inicia-se a grande missão

Bártolo Longo - homem de decisões radicais, como já foi dito - recusou vantajosas propostas de
casamento, abandonou a carreira de advocacia e se dedicou às obras de caridade e ao estudo da
Religião. Tornou-se, com isso, alvo de grosseiras chacotas daqueles mesmos que antes aplaudiam e
estimulavam suas actividades anti-religiosas. Mas elas produziram como único resultado um acto
de reparação: "Devo reparar pelos meus pecados", dizia o convertido.

Algum tempo depois, travou relações com uma nobre dama napolitana, a Beata Catarina
Volpicelli, fundadora das Servas do Sagrado Coração de Jesus. Esta o pôs em contacto com
outras pessoas de grande fervor, entre as quais a Condessa Mariana Fonseca, viúva do Conde
de Fusco, proprietária de terras no Vale de Pompéia.

Por esse meio, a Virgem Maria o foi conduzindo para a realização da grande missão para a qual
o havia escolhido. Em 1872 a Condessa de Fusco confiou- lhe a administração de suas
propriedades nos arredores de Pompéia. Lá chegando, ele ficou profundamente chocado ante a
miséria humana e religiosa dos pobres camponeses da região. Nada havia ali, a não ser uma
pequena igreja, já muito arruinada e tão pobre que não tinha uma imagem sequer.

Sem tardança, dedicou-se à tarefa nobre e humilde de lhes ensinar o Catecismo, e à
divulgação do Santo Rosário.

Era a reconquista espiritual do Vale de Pompéia que se iniciava. Uma obra grandiosa
Cresceu o número dos fiéis, a igrejinha tornou-se insuficiente, tornara-se necessário construir
uma maior e mais acolhedora. Por sugestão do Bispo de Nola, a cuja diocese pertencia Pompéia, Bártolo Longo começou uma campanha de colecta de contribuições. A pedra fundamental foi colocada em maio de 1876.

Choveram as doações, inicialmente de várias cidades italianas, depois, de quase todas as
partes do mundo, deixando espantado até mesmo o Beato Bártolo. Nos arquivos do Santuário,
conservam-se cinco volumes com quatro milhões de nomes de doadores!
Em 1894, ainda faltando alguns arremates de construção, o templo foi consagrado. Com o
aumento constante do número de peregrinos, foi ampliado alguns anos depois.

Quando, em 5 de outubro de 1926, faleceu Bártolo Longo, sua obra tinha já atingido
proporções grandiosas. O Santuário tornara-se um centro internacional de propagação do
Rosário, e fora elevado à categoria de Basílica Pontifícia, para onde os peregrinos acorriam aos
milhões. E em torno dele estava construída uma cidade mariana, com numerosos institutos de
beneficência.

O Beato Bártolo Longo é um dos poucos casos na história da Igreja em que um simples leigo é
o fundador de uma comunidade religiosa. Em 1897 ele fundou as Filhas do Rosário de Pompéia,
sujeitas à regra da Ordem Terceira de São Domingos, para dedicar-se ao cuidado dos meninos
e das jovens. E perto já de terminar sua carreira nesta terra, fundou em 1922 o Instituto
Feminino Sagrado Coração.

Na cripta do Santuário pode ser visto o corpo do Beato, posto numa urna de vidro, revestido da
capa dos Cavaleiros de Malta.



Daqui: http://www.acnsf.org.br/article/10091/Beato-Bartolo-Longo--De-devoto-do-demonio-
a-apostolo-do-Rosario--.html

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Salvé Regina!