3.7.16

«A que vieste?»

São Bernardo de Claraval
 
Cedo nos habituaram à quotidiana pergunta de São Bernardo: «A que vieste?» e à resposta
sacramental. «Vim para me santificar».
 
 
Abençoados directores espirituais que ao longo da história, como o génio Claraval, assim
lançaram tanta gente na corrida da santidade.
 
O Sínodo Extraordinário de 1985 manda-nos insistir sobre a urgência de correspondermos
pessoalmente ao chamamento da santidade. Decididamente há que avançarmos pelo caminho
do Senhor, sem pactuar com a mediocridade e o hedonismo, situando-nos num processo de
permanente conversão, abraçando a cruz do Senhor, que é também a dos nossos irmãos.
Podemos todavia cair na tentação subtil de buscar a santidade como forma de crescimento
pessoal, como resposta ao anseio profundamente humano de realização, de aprimoramento.

A Vida consagrada traz consigo, mercê da profissão pública da radicalidade evangélica, a
semente da superação constante da pessoa e a exigência de se descentrar de si mesma para se
enuclear em Cristo e no serviço do seu Reino. Desvinculada desta perspectiva, a santificação
pessoal constitui uma forma de riqueza que viola a coerência interna da consagração. Fazer
carreira, mesmo na linha da qualificação pessoal, não quadra a uma autêntica vida consagrada.
 
Quem vive na prece e na renúncia para conseguir a própria santificação não é ainda santo;
será o mais limpo dos egoístas.
Acrescentar o Corpo de Cristo, dando largas ao dinamismo da graça; transformar-se em Deus,
levados de pura complacência nele - eis a ideologia determinante do tender à santidade.
 
Esta límpida intenção movia a poetisa árabe do Séc IX, de nome Rábia, a Orar:
 
«Senhor, se eu me voltar para Vós por medo do Inferno,
precipitada seja no Inferno.
Se Vos anunciar com mira no Paraíso,
excluí-me do Paraíso.
Mas se Vos anunciar por amor de Vós,
não me priveis da Vossa eterna beleza».
 
 
 
Vida Consagrada - Abílio P Ribeiro
São Bernardo abade de Claraval

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Salvé Regina!