31.5.16

Por trás de cada obstáculo...

A 13 de Maio - Praça de S. Pedro
 
O mundo está cansado... cansado de guerras, violência, ódios e opressões. Cansado da inflação. Já sabemos agora que o capitalismo selvagem descobriu um novo processo de exploração, o mais infame e refinado. Há grupos e pessoas que forçam a espiral inflacionária, porque eles lucram escandalosamente, enquanto a corda da inflação aperta o pescoço dos indefesos cidadãos... Enquanto o povo agoniza, alguns outros enriquecem!
 
(...) Estamos cansados de sufocar na garganta indagações inúmeras sobre política interna e externa.  Indagações que ficam sem resposta. Gritos doídos, parados no ar...
 
Só vejo pessoas tensas, nervosas, apressadas. Parece que estão fugindo. Com medo da própria sombra... Abro jornais. Só dá manchete triste, preocupante. Televisão: é violência e superficialidade que não acabam mais. Vejo olheiras fundas no rosto do mundo, no dos cidadãos. Cansaço nos olhos, no rosto, na alma, nos corações...
 
Sempre me ensinaram: quem semeia esperança nos caminhos dos homens, colhe paz e amor, na escola da vida. Nem sempre, segundo os factos nos mostram.
O bárbaro atentado a João Paulo II nos provou que a bondade é muitas vezes crucificada. Quanto mais delicado e sensível seu coração, meu amigo, minha amiga, mais você sofrerá, quando vítima da maldade, da injustiça, da ingratidão.
 
Não é fácil ser optimista, alegre e jovial nos dias de hoje. Por outro lado, não resolve jogar os remos no fundo do barco, deixando que a correnteza do derrotismo e as vagas da capitulação nos arrastem rios abaixo. Viver é lutar, é reagir. Nem que seja contra toda a esperança.
 
Jamais esqueceremos aquela cena de 13 de Maio, na Praça de S. Pedro. João Paulo II foi baleado quando acabava de abraçar uma criança. Foi o confronto mundial da bondade com a violência desvairada, o amor-ternura contrastando com a cegueira do ódio, da maldade. Foi a hora do lobo investindo contra mansidão do cordeiro...
A solidariedade é uma das faces sob as quais Deus se oculta no coração dos homens. Imensa, comovente e total foi a solidariedade que o Papa ferido recebeu. Uma solidariedade orante, do tamanho do universo...
 
Deus continua velando, escrevendo, conduzindo, nas linhas tortas e sinuosas que a civilização moderna rabisca nos pergaminhos da História. E mesmo no fundo do poço seus braços de misericórdia nos alcançam, carregados de estrelas...
(...) Deus não acalma as tempestades que a turbulência da insensatez humana desencadeia..., mas nos revigora para atravessá-las, com serenidade, paz e confiança. Não raro, quando nos parece que Deus se afasta... é exatamente então que ELE VEM. Ao nosso encontro. Para dentro da nossa vida. Plantando questionamentos de sabedoria. Desarrumando a nossa casa, sacudindo nossos marasmos e acomodações. Desinstalando-nos da mediocridade, deixando-nos seus recados de misericórdia e amor.
 
O dia 13 de Maio foi um vento forte, desconcertante e impetuoso que varreu o globo. Muita gente acordou! Reflectiu, se comoveu e rezou, como na manhã de Pentecostes, dois mil anos atrás. Senti Deus falando aos homens, falando ao mundo, naquela tarde, naquela noite...
 
"Por trás de cada obstáculo, descubro novos horizontes".
 
 
 
Pe. Roque Schneider, S.J.
[Trechos, Pe. Roque Schneider]

 

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Salvé Regina!